João Luís Gaspar
Portugal
Perigos naturais, avaliação de riscos e resposta a situações de emergência no arquipélago dos Açores: análise retrospetiva e prioridades para o futuro.
Localizadas em pleno Oceano Atlântico num quadro geodinâmico determinado pelo jogo das placas litosféricas euroasiática, africana e norte-americana, as ilhas dos Açores estão sujeitas a condições meteorológicas e geológicas que potenciam a ocorrência de inundações, cheias, movimentos de vertente, sismos, erupções vulcânicas, explosões de vapor, emanações gasosas e tsunamis, entre outros. Neste contexto, desde a sua descoberta e povoamento em meados do século XV, o arquipélago foi palco de vários eventos catastróficos, globalmente responsáveis por milhares de mortes e feridos, um elevado grau de destruição ao nível de edifícios, infraestruturas básicas e bens, e um forte impacto económico com repercussões que se estendem, em regra, ao longo de vários anos.
Os perigos naturais observados nos Açores ocorrem frequentemente associados no tempo e no espaço, por vezes, interagindo entre si, o que obriga a que a sua análise seja realizada numa perspetiva de multi-hazards e, por conseguinte, através de uma abordagem multidisciplinar. A este facto acresce que tais fenómenos naturais podem ser desencadeados ou potenciados por fatores antropogénicos, ou eles próprios desencadearem perigos tecnológicos e sociais de grande impacto o que alarga substancialmente o espectro da avaliação dos riscos existentes.
Nesta apresentação relembram-se alguns dos acontecimentos registados nos Açores que ilustram a complexidade da questão no que concerne à avaliação dos riscos para efeitos de ordenamento do território e de planeamento de emergência, assim como à implementação de redes de monitorização e de sistemas de aviso e alerta para a tomada de decisões de proteção civil. Com base no observado, sublinha-se a importância do papel e da relação entre os vários atores envolvidos na resposta a situações de crise, designadamente, cientistas, autoridades, media e público. Neste domínio, dá-se nota da necessidade de (a) se reforçarem e modernizarem sob o ponto de vista tecnológico as redes de monitorização das áreas mais suscetíveis à ocorrência de perigos naturais, incluindo a transmissão e o tratamento de dados, (b) se estabelecerem normas de correspondência entre os níveis de alerta científico e as decisões operacionais de vigilância e de proteção civil, (c) se promoverem exercícios e ações regulares de formação e educação junto da comunidade para efeitos da resposta a situações de emergência, e (d) se implementarem procedimentos e mecanismos de comunicação que possibilitem à população vulnerável agir eficazmente perante a ameaça ou o desenvolvimento de perigos naturais.
* Em coautoria com Rita Carmo, Gabriela Queiroz e Teresa Ferreira